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Conteúdo de ódio
Folha de São Paulo
Comentários de notícias

Manifestação do conteúdo de ódio em comentários de notícias na versão online da Folha de São Paulo

Trabalho apresentado no Seminário de Pós-Graduação da Inovamundi 2020.

Eduarda Velho
Eduarda Velho

Professora e pesquisadora, PhD

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Resumo: As plataformas digitais têm ampliado seus esforços no combate a difusão do conteúdo de ódio. Embora haja investimento em práticas de moderação, ainda há ocorrência deste tipo de interação. Entender de que forma o conteúdo de ódio se manifesta nestes espaços pode ajudar a melhorar e ampliar o combate a esta violência. Este é um estudo acerca da temática análise da manifestação do conteúdo de ódio em comentários de notícias da versão online da Folha de São Paulo. O objetivo desta pesquisa é verificar como o conteúdo de ódio se manifesta nos comentários deste veículo de mídia. Para isso, foi realizada uma análise de conteúdo sobre estas interações. Dentre os resultados, destacam-se os comentários contendo ódio contra Bolsonaro e seus aliados, que se manifestaram em resposta às medidas que foram tomadas pelo governo brasileiro para combater o novo coronavírus.

Introdução

Organizada por diversas entidades de direitos humanos, a campanha "Stop Hate for Profit" vem pressionando o Facebook a tomar medidas mais efetivas diante do problema da propagação do ódio em sua plataforma social. Segundo o site que divulga a iniciativa [1], este boicote foi motivado pela difusão em larga escala que o ódio, o racismo, o antissemitismo e as teorias conspiratórias possuem dentro deste espaço. Alem de organizações sem fins lucrativos, grandes empresas de diversos setores como Adidas, Best Buy e Ford já registraram seu apoio a causa. A campanha ganha cada vez mais tração neste sentido, pois, em parte, as empresas não querem ver suas marcas ao lado deste tipo de conteúdo nas publicidades das plataformas digitais (VAN DIJCK; POELL; DE WAAL, 2018).

Como aponta Van Dijck et al (2018), na lógica da "sociedade da plataforma", os governos, as sociedades civís e as próprias platataformas são, em algum aspecto, todos responsáveis por fiscalizar e gerenciar os recursos utilizados e as interações mediadas por este tipo de serviço. O que esta campanha faz é exigir protagonismo e transparência (nos termos de uso, por exemplo) sobre quais tipos de conteúdo podem circular no Facebook, assim como exige o aprimoramento das estratégias de gestão do conteúdo de ódio.

Embora plataformas como Facebook, Twitter e YouTube tenham aprimorado sua gestão (SILVA; BOTELHO-FRANCISCO; DE OLIVEIRA; PONTES, 2019), ainda há grande difusão deste tipo de interação. Pesquisas recentes demonstram graves manifestações em plataformas sociais, como as postagens racistas no Facebook do caso "sou ladrão e vacilão" (PAZ; MEIRELES, 2018; PINTO, 2016), os comentários homofóbicos na página do Facebook de Jean Wyllys (FERREIRA, 2017), as ofensas contra Tifanny (jogadora transexual de voleibol) no Instagram e no Twitter (SOARES, 2019) e o racismo e deslegitimização de Marielle Franco no Facebook e no Twitter (SCHIRMER; DALMOLIN, 2018). Destaca-se que estes exemplos são ocorrências em nível de Brasil. Como agravante, existem evidências de que o conteúdo de ódio possui maior alcance e se espalha mais rápido do que outros tipos de conteúdo e que, além disso, as pessoas que propagam o ódio estão conectadas em redes sociais mais densas e emaranhadas do que os outros ( MATHEW; DUTT; GOYAL; MUKHERJEE, 2019).

Pesquisas que busquem compreender como o conteúdo de ódio se manifesta podem ajudar a melhorar e ampliar o combate a esta violência. Diversos estudos possuem como objeto de pesquisa o discurso de ódio/conteúdo de ódio de interações em português no ecossistema de plataformas e interações que tangem a "internet brasileira". O diferencial deste estudo é utilizar uma abordagem quantitativa amparada por programas desenvolvidos para a coleta e análise dos dados, buscando uma abordagem computacional aplicada sobre um problema da área da comunicação e das ciências sociais.

Este é um estudo quantitativo acerca da temática análise da manifestação do conteúdo de ódio em comentários de notícias da versão online da Folha de São Paulo. O objetivo desta pesquisa é verificar como o conteúdo de ódio se manifesta nos comentários das notícias, especificando-se em classificar o conteúdo (análise temática) e enumerar suas ocorrências (etapa da análise de conteúdo).

Referencial teórico

O conceito chave deste trabalho é o "conteúdo de ódio", ou simplesmente o "ódio" de maneira mais generalista. Muitas das pesquisas que abordam a manifestação do ódio nas plataformas sociais nomeiam este objeto de pesquisa também como "discurso de ódio" (MATHEW, 2019; SILVA, 2019; SOARES, 2019), utilizando definições bastante semelhantes entre si. Estas pesquisas geralmente concordam que o discurso de ódio/conteúdo de ódio seja uma manifestação de hostilidade contra determinado grupo ou indivíduo, como um ato violento que reafirma ao outro sua posição na hierarquia das relações de poder (SILVA, 2018). Este estudo visualiza o conteúdo de ódio sob a ótica de Pierre Bourdieu (1989), na perspectiva de uma violência simbólica contra grupos e indivíduos.

Recuero e Soares (2013) estudam a propagação da violência simbólica nos sites de redes sociais, buscando compreender sua estrutura e os mecanismos que motivam as pessoas a compartilhar este tipo de conteúdo. Dentre outras constatações, as autoras sintetizam a questão da violência simbólica em três vias que perpetuam sua manifestação: "permissão de humor", "legitimação pela interação" e "descrédito dos críticos".

No primeiro caso (permissão de humor), as autoras percebem que o humor pode ser utilizado como uma forma de suavizar e naturalizar a violência simbólica. O humor, além de tornar o ódio algo mais fácil de se popularizar, atua como uma "licença" para que a ofensa seja reproduzida sem qualquer crítica. Desta forma, toda vez que este tipo de conteúdo é compartilhado, seu poder simbólico é fortalecido.

A legitimação pela interação ocorre através da naturalização da violência, que se repete nos muitos compartilhamentos que este tipo de conteúdo pode receber. As autoras destacam que o próprio ganho de visibilidade que estas mensagens recebem após serem repetidamente reforçadas pode ser considerado como uma forma de violência.

Por fim, o descrédito dos críticos pode ser observado quando pessoas criticam ou discordam do conteúdo. Desta forma, estas pessoas são desacreditadas por não terem "senso de humor", além de que este descrédito funciona como uma estratégia para reduzir a visibilidade e a influência da oposição.

Procedimentos metodológicos

Até aqui, o termo "plataforma" foi citado frequentemente como um espaço de interação onde o conteúdo de ódio é passível de se manifestar. Isto ocorre pois este trabalho entende a lógica da sociedade pela ótica da "sociedade da plataforma", teorizada por Van Dijck et al (2018), que justifica este conceito pela forma que plataformas como Facebook, Uber e AirBNB tem afetado as sociedades, a economia e os governos. Para os autores, a plataforma é uma arquitetura programada para gerenciar a interação entre os usuários, isto em um sentido abrangente, pois existem dados, algorítimos, interfaces, termos de contrato e modelos de negócio que as regem. É fácil cair na falácia de reduzir as plataformas a simples ferramentas tecnológicas, embora elas sejam muito mais do que isto (idem , 2018). Basta observar como, por exemplo, o Facebook afetou o mercado de mídia e de notícias, ou como a Uber trouxe uma mudança de paradigma na mobilidade urbana.

Neste sentido, a Folha de São Paulo, o "campo" escolhido para esta pesquisa, não necessariamente opera sob o formato de uma plataforma, mesmo que seja possível observar características deste tipo em sua construção. Porém, independente de qualquer característica que a Folha possa ou não vir a ter, ela ainda opera sob a lógica da sociedade da plataforma, assim como também é afetada por esta realidade. Um exemplo disso é uma notícia [2] publicada pela própria Folha em fevereiro de 2018, onde o jornal anuncia que não vai mais publicar conteúdo no Facebook devido a mudanças no algoritmo da plataforma, que "diminuiu a visibilidade do jornalismo profissional nas páginas de seus usuários". Todavia, por mais que publicações não sejam mais realizadas no Facebook, ainda há presença da Folha em outras plataformas sociais, como Twitter e Instagram. Fora que, de acordo com esta notícia, os leitores ainda contam com a possibilidade de compartilhar as notícias do jornal no Facebook.

Assim como o jornal online do G1, a Folha optou por manter uma área de comentários exclusiva, sem utilizar qualquer plugin social que os conecte com o Facebook ou outra plataforma social. A Figura 1 ilustra um recorte da linha de comentários de uma notícia.

Figura 1 – Exemplo de linha de comentários da Folha de São Paulo

Fonte: Elaborada pela autora.

Dentre as interações possíveis, está a possibilidade de comentar, responder e "curtir" comentários de outros leitores, assim como denunciá-los. Os comentários também podem ser ocultados pela moderação do site caso haja conteúdo impróprio, nestes casos, há uma mensagem informando o ocorrido. Desta forma, este estudo apenas realiza a análise dos comentários que não foram removidos pela moderação da Folha.

Em relação à coleta de dados, foram selecionados os 50 últimos comentários de todas as notícias do jornal no período de junho de 2020. Todas as respostas que estes comentários receberam também foram coletadas e não sofreram qualquer tipo de distinção na modelagem do dataset. Ou seja, após a coleta, estas respostas foram tratadas como qualquer outro comentário. Destes comentários e respostas (nomeados daqui pra frente somente como "comentários"), foi obtido o seu conteúdo textual, a data da publicação e a quantidade de "likes" atribuída pelos leitores do jornal. Além da informação dos comentários, os títulos, subtítulos, palavras-chaves e links das notícias foram coletados. A Figura 2 ilustra a estrutura do dataset.

Figura 2 – Codificação do dataset

Fonte: Elaborada pela autora.

Para realizar esta coleta massiva de dados, um programa do tipo scraper foi desenvolvido. Este programa realiza o acesso automático a cada uma das notícias (no período especificado anteriormente) e extrai os comentários e as informações relevantes destas páginas. Sobre as questões éticas, os acessos não foram realizados concorrentemente e, para cada ciclo de coleta, que equivale a obter as informações e os comentários de uma notícia, houve um delay de 5 segundos para evitar qualquer tipo de sobrecarga na infraestrutura da Folha. Nenhuma medida foi tomada para evitar a detecção e o bloqueio do processo de scraping. Caso os responsáveis pelo monitoramento do jornal online decidissem barrar o programa, isso ocorreria sem qualquer interferência.

Após a coleta de dados foi realizada a extração dos comentários com conteúdo de ódio, que ocorreu utilizando uma série de palavras-chave indicativas deste tipo de conteúdo. Foram utilizadas as palavras-chave selecionadas por Silva (2017), que realizou uma análise do conteúdo de ódio nas fanpages das senadoras da República no Facebook.

Desta forma, após a filtragem dos comentários, foram selecionados somente os que contiveram pelo menos uma ocorrência da lista de palavras-chave. Lembrando que estas palavras-chave são diferentes das "palavras-chave das notícias", que são atribuídas pela própria Folha para "etiquetar" as notícias do jornal online. A Figura 3 ilustra o universo de palavras-chave associadas aos seus temas.

Figura 3 – Palavras-chave que indicam conteúdo de ódio

Fonte: Silva (2017, p. 100), editada pela autora.

A análise de conteúdo foi delineada na perspectiva de Bardin (2011), atendo-se aos processos de análise temática e enumeração do conteúdo. Para este dataset, as unidades de contexto são o comentário para a palavra e a notícia para o comentário.

Quanto à codificação, o dataset foi modelado de acordo com a Figura 2, com o acréscimo das variáveis tipo de conteúdo de ódio e palavra-chave que foram aferidas programaticamente segundo o ilustrado na Figura 3.

Em relação à análise temática, entende-se que os temas são as palavras-chave das notícias. Para a enumeração do conteúdo, foram analisadas a presença, a frequência e a ordem das unidades de registro, tendo em vista que este processo ocorre na dimensão do comentário e da notícia em termos de unidade de contexto. Estes procedimentos foram todos realizados através de programas construídos para este propósito.

Resultados e discussão

Foram coletados 36.437 comentários das 2.675 notícias publicadas pela Folha em junho de 2020. Após a filtragem por palavras-chave que indicam conteúdo de ódio, restaram 656 comentários distribuídos entre 376 notícias que compuseram o dataset final.

Os temas mais frequentes das notícias foram "bolsonaro" (746 ocorrências), "governo" (320 ocorrências) e "coronavírus" (171 ocorrências). As palavras-chave mais frequentes foram "comunista", "psicopata", "imbecil", "gordo" e "esquizofrênic", respectivamente. A Figura 4 ilustra estes achados.

Figura 4 – Palavras-chave de ódio mais frequentes

Fonte: Elaborada pela autora.

Destaca-se que a expressão "comunista" (em 373 comentários) foi responsável por mais da metade das ocorrências, mas foi difícil através do método conseguir evidenciar quais grupos ou indivíduos foram "alvo" deste ódio. Porém, através da análise por ordem e presença , foram verificadas pelo menos mais de 5 ocorrências dos termos "china comunista", "imprensa comunista" e "mídia comunista". As palavras-chave "bolsonaro", "governo" e "covid-19" foram os temas mais frequentes nas notícias onde houve manifestação deste termo.

Quanto as ocorrências da palavra-chave "psicopata" (em 164 comentários), este sim apresentou um padrão bem claro, demonstrando que as pessoas utilizaram deste termo para se referir pejorativamente ao presidente Jair Bolsonaro, seus aliados e seu governo – "governo" na perspectiva de um grupo de indivíduos. Fica claro que neste dataset o ódio possui um viés político bastante acentuado, o que foi inesperado para os pesquisadores que realizaram este estudo.

Os temas que mais apareceram quando houve ocorrência do termo "psicopata" foram "bolsonaro" (202 ocorrências), "governo" (89 ocorrências) e "coronavírus" ( ocorrências). Estas ocorrências foram identificadas em 126 das 376 notícias do dataset (33,5% do todo) e, dentre estas, houve uma média de 1,3 comentários por notícia. As palavras que mais estiveram presentes nestes comentários foram "miliciano" ( ocorrências), "genocida" (35 ocorrências), "presidente" (27 ocorrências) e "bolsonaro" (18 ocorrências). Houve também comentários com a manifestação de ordem direta "presidente psicopata" (11 ocorrências). Além disso, em comentários onde houve presença das palavras "bolsonaro" ou "presidente", ocorreram também as expressões "psicopata genocida" (16 ocorrências) e "miliciano psicopata" (14 ocorrências).

Através de uma leitura convencional dos comentários é possível perceber que as pessoas estão bastante insatisfeitas com as medidas que estão sendo tomadas pelo governo brasileiro para combater a pandemia do novo coronavírus. Embora este aspecto seja o mais evidente, há também bastante descontentamento quanto à gestão do governo Bolsonaro de forma geral. As atitudes do presidente e de seus apoiadores – os "psicopatas" – são frequentemente criticadas pelos leitores da Folha, o que reverbera no ódio que foi detectado nesta pesquisa. Vale destacar que, como aponta John Suler (2004), em interações online, "tóxico" e "benígno" é uma dicotomia complexa que se encontra na subjetividade. Não há como justificar este tipo de fala, mas também é precoce rotular este ódio que não é motivado pela discriminação racial, de gênero ou de classe, como sendo "benígna" ou "tóxica".

Neste sentido, Dejours (1999) refere que o discurso economicista que relaciona as adversidades e situações problemáticas à causalidade do destino, pode implicar na adesão maciça das pessoas à resignação e à falta de mobilização coletiva. Ainda, o autor ressalta que a adesão a essas falas (os comentários que denunciam Bolsonaro e seus aliados como "psicopatas") seria uma manifestação da chamada "banalização do mal", termo utilizado por Arendt (1999).

Alguns estudos que possuíam como objetivo investigar quanto aos processos organizacionais de trabalho observaram que quando os indivíduos ficam sob um estado de pressão, existe a possibilidade de que fiquem "prisioneiros" de estratégias que os impedem de decidir e de agir (DEJOURS, 1987; ENRIQUEZ; DA ROCHA, 1997). Em matéria publicada pelo veículo de comunicação Sul21 [3] , a psicóloga doutora Carmem Giongo propõe-se a discutir quanto ao estado de loucura elencado à Bolsonaro e aos membros de seu governo. Em sua matéria, a autora observa que a utilização dos discursos de sobrevivência financeira do país e da liberdade como justificativas para o desmantelamento de políticas públicas, direitos fundamentais e da vida não são práticas novas e específicas deste momento. Giongo ressalta que Bolsonaro não é "louco", mas sim é um representante de ideais econômicos que priorizam um Estado mínimo como forma de sobrevivência e onde encontram-se poucos beneficiários, que se fortalecem com a precarização da vida e com o medo da exclusão em massa. Através disto, a autora conclui que caracterizar Bolsonaro como "louco", mesmo que seu governo possua uma considerável taxa de aprovação e que as estratégias ultraneoliberais avancem a passos largos em todo o mundo, é mais simples e pode ser um deslocamento confortável para ignorar estas questões preocupantes.

Segundo Arendt (1999), o mal banal encontra solo fértil nas sociedades massificadas, possuidoras de organizações econômicas, políticas e sociais potentes, nas quais os seres humanos tendem a se sentir sem poder, solitários, submissos e, possivelmente, condicionados. Ao viver apenas como membro laborante de uma máquina, os sujeitos tecnificam e burocratizam as suas obrigações tornando-se incapazes de pensar as conseqüências das ordens dadas pelos seus superiores ou grupos (AGUIAR, 2010). A autora reforça que este é um tipo de mal sem relação com a maldade, uma patologia ou uma convicção ideológica. Trata-se do mal como causa do mal, pois não tem outro fundamento. Desta forma, o mal realiza-se na banalidade, na injustiça e nas radicais práticas de violência contra imigrantes, mulheres, desempregados, índios, negros, crianças, idosos e a natureza, atingindo quaisquer população minoritária dentro de uma sociedade (ARENDT, 1999).

Da mesma forma, como postula Dejours (1999) a separação de adversidade e injustiça não teria como consequência meramente a resignação e a constatação de impotência frente à um processo que aparentemente nos "transcende", mas sim uma estratégia de defesa quanto à consciência dolorosa de nossa própria responsabilidade e cumplicidade no agravamento das adversidades sociais. Por conta disso, ressalta-se a relevância de discutir-se quanto às implicações do conteúdo de ódio na internet, visto que pode-se encontrar neles, muitas vezes, certo conforto e estagnação frente a situações atenuantes de crise.

Considerações finais

Este foi um estudo acerca da temática análise da manifestação do conteúdo de ódio em comentários de notícias da versão online da Folha de São Paulo. O objetivo desta pesquisa era verificar como o conteúdo de ódio se manifestou nos comentários das notícias deste jornal. Como limitação, este estudo não realizou uma verificação manual do dataset, sendo possível que alguns comentários com conteúdo de ódio sejam na verdade falsos-positivos. Para próximos estudos, sugere-se a verificação manual e realizar a análise utilizando outras variáveis do dataset que não foram exploradas (como os likes dos comentários e as datas de publicação).

Referências

GUIAR, Odílio Alves. Violência e banalidade do mal. Cult: Revista Brasileira, 2010.

ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Editora Companhia das Letras, 1999.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1989.

DEJOURS, Cristophe. A leitura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez Editora, 1987.

DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. FGV Editora, 1999.

ENRIQUEZ, Eugène; ROCHA, Francisco. A organização em análise. Vozes, 1997.

FERREIRA, Madson de Lima. Militância no Facebook como enfrentamento ao discurso de ódio: análise da página de Jean Wyllys no combate à homofobia na web. 2017. 130 f. Dissertação (Mestrado em Direitos Humanos, Cidadania e Políticas Públicas) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017.

MATHEW, Binny; DUTT, Ritam; GOYAL, Pawan; MUKHERJEE, Animesh. Spread of hate speech in online social media. In: Proceedings of the 10th ACM conference on web science. 2019. p. 173-182.

PINTO, Letícia Eloi. O discurso de ódio no SRS Facebook: análise do caso “sou ladrão e vacilão”. In: XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2016.

PAZ, Huri; MEIRELES, Pedro. Discursos de ódio na internet: uma análise sobre a marginalidade dos corpos negros. In: Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros, v. 10, n. 08, p. 2018, 2018.

RECUERO, Raquel; SOARES, Pricilla. Violência simbólica e redes sociais no facebook: o caso da fanpage" Diva Depressão". Galáxia (São Paulo) , v. 13, n. 26, p. 239-254, 2013.

SCHIRMER, Leandra Cohen; DALMOLIN, Aline Roes. Discurso de ódio biopolítico no caso Marielle Franco. In: I Congresso Nacional de Biopolítica e Direitos Humanos. 2018.

SILVA, Luiz Rogério Lopes; SAMPAIO, Rafael Cardoso. Impeachment, facebook e discurso de ódio: a incivilidade e o desrespeito nas fanpages das senadoras da república. Esferas , v. 1, n. 10, 2018.

SILVA, Luiz Rogério Lopes; BOTELHO-FRANCISCO, Rodrigo Eduardo; DE OLIVEIRA, Alisson Augusto; PONTES, Vinicius Ramos. A gestão do discurso de ódio nas plataformas de redes sociais digitais: um comparativo entre Facebook, Twitter e Youtube. Revista ibero-americana de ciência da informação , v. 12, n. 2, p. 470-492, 2019.

SOARES, Larissa. Discurso de ódio no voleibol: uma análise do caso tifanny no ciberespaço. Revista de Comunicação e Cultura na Amazônia , v. 5, n. 1, 2019.

SULER, John. The online disinhibition effect. Cyberpsychology & behavior , v. 7, n. 3, p. 321-326, 2004.

VAN DIJCK, José; POELL, Thomas; DE WAAL, Martijn. The platform society: Public values in a connective world. Oxford University Press, 2018.


[1] Disponível em: stophateforprofit.org.

[2] Disponível em: folha.uol.com.br.

[3] Disponível em: sul21.com.br.